Painel de governança e transparência 

Como compartilhar informações usando Business Intelligence.

Por: Márcio Medeiros

2 de abril, 2024

Grupo de colegas sentados no escritório discutindo indicadores de desempenho e gráficos. Ilustra o artigo que fala sobre os desafios
Créditos: DC Studio | Freepik

Atualmente os grandes desafios de renovação do sistema de previdência complementar no Brasil estão ancorados no aprimoramento da governança, transparência e gestão dos fundos de pensão. A ordem do dia requer simplificar processos, inovar, reduzir custos e se preparar para uma era de rendimentos menores nas aplicações de renda fixa, exigindo mais profissionalismo e governança na gestão de investimentos.

O conceito de governança expressa como é realizada a gestão e o controle da organização como um todo, ou seja, com base em que parâmetros os tomadores de decisão escolhem a melhor cesta de alocação de recursos ou o que deve ser priorizado? Entretanto, percebo que grande parte dos debates em aprimorar a governança dos fundos de pensão concentram-se em reformular os órgãos de governança, o que obviamente é importante. Mas como aprimorar a transparência e a qualidade das decisões dos órgãos de governança?

Destaco a necessidade de se construir um sistema de monitoramento de indicadores que facilite o compartilhamento de informações alinhadas a um planejamento estratégico institucional. 

Não há fórmula mágica, mas sem um sistema adequado de indicadores, certamente a governança seguirá caminhos aleatórios, sem segurança para definir os rumos do futuro. Um sistema de monitoramento de informações integrado com uma ferramenta de Business Inteligence – BI e o software de gestão negocial permitirá disponibilizar tempestivamente as informações para acompanhar os indicadores de gestão e seus resultados. 

A partir da análise, cruzamento e segmentação das informações será possível decidir sobre a correção dos rumos ou comprovar a eficácia e/ou eficiência da estratégia adotada. É uma metodologia que está relacionada ao conceito de gerenciamento voltado para resultados (results oriented management – ROM). Esse conceito tem sido adotado nas administrações públicas de diversos países, especialmente nos de cultura anglo-saxônica (EUA, Austrália, Reino Unido).

As planilhas eletrônicas são ferramentas extremamente versáteis, mas têm limitações de desempenho em grande escala, interface complicada com ERPs previdenciários, pouca mobilidade de acesso e possibilidade de erro de cálculos ao se incluir/excluir uma linha acidentalmente, por exemplo. Além disso, o acompanhamento da gestão de EFPC fica muito limitado quando nos sujeitamos a riscos e problemas operacionais, reduzindo o nível de transparência, prestação de contas, accountability, eficácia e eficiência.

A governança das EFPC está diretamente relacionada com a gestão, que compreende a prestação de contas aos participantes, patrocinadores e órgãos estatutários e um modelo de negócio baseado na credibilidade e sustentabilidade de longo prazo para fazer frente aos riscos inerentes à atividade previdenciária.

O grande desafio de uma entidade é comunicar as informações contábeis de difícil entendimento para a maior parte dos participantes, utilizando histórias interativas que podem ser visualizadas por dashboards de indicadores, tornando-as acessíveis sem perder o rigor técnico nem extrapolar os limites da Contabilidade como Ciência. 

Nesse contexto, os demonstrativos contábeis ganham nova conotação, abandonando o conceito de simples formalidades descritas em lei para abrir um horizonte de Transparência e Governança das entidades, com foco em prestar contas e ao mesmo tempo apoiar decisões dos agentes interessados. 

Como dirigente da Funpresp-Jud de 2014 a 2018, coordenei a implantação de painéis com dados que permitiam uma visão 360º das informações da entidade, suas correlações, causas e consequências dos principais fatos contábeis.

O Painel de Governança e Transparência era capaz de responder a todas as perguntas estruturais da gestão de uma EFPC de maneira rápida e fácil, e permitia monitorar os principais indicadores de interesse de participantes, patrocinadores e órgãos de governança. 

Optamos por construir dashboards em 4 dimensões:

  • participantes e patrocinadores;
  • receitas;
  • patrimônio;
  • despesas. 

O modelo de tratamento e mineração adotado utilizou informações do banco de dados do módulo previdenciário (informações estatísticas de participantes e patrocinadores) e do módulo contábil (informações de patrimônio, despesas e receitas), ambos do ERP utilizado pela Funpresp-Jud. 

A modelagem foi construída com base na hierarquia da planificação contábil aplicável a EFPC com o objetivo de prestar contas de informações registradas nas demonstrações contábeis de forma fácil e menos técnica, permitindo ser adaptada para qualquer outra EFPC, independentemente do ERP utilizado, patrimônio, quantidade de participantes ou patrocinadores.

No caso de informações de cadastro de participantes foram construídas views específicas com auxílio dos analistas de tecnologia da empresa responsável pelo ERP. 

O foco dos primeiros painéis foi apresentar informações de interesse e prestar contas aos participantes com recortes de período, órgão patrocinador, plano de benefícios ou plano de gestão administrativa e tipo de despesa e receita. 

O objetivo era, minimamente, responder um universo de perguntas necessárias ao entendimento e suporte à decisão de qualquer participante ou membro de órgão de governança. Isso permitiu criar conexões e contextos entre as informações das dimensões, estruturando uma história da gestão com capítulos sobre participantes, patrocinadores, contribuições, patrimônio e despesas.

Indicadores são essenciais para nossa decisão. Desde os primórdios nossas decisões são baseadas em indicadores, tais como: saber a quantidade de comida necessária para resistir a um inverno, ou quanto tempo seria necessário para uma viagem, eram decisões que custavam uma vida, e ainda hoje custam.

Quase sempre temos em nossas mesas diversos números, alguns são até importantes, mas outros, do nosso ponto de vista, não. Às vezes ficamos até incomodados com informações que não são do “nosso” setor e quando são apresentadas, nos fazem questionar sua relevância.

Mas não se engane, quanto mais vamos ampliando a visão do todo ao invés da parte, aprendemos e compreendemos como os indicadores estão conectados e como eles nos contam uma história. Mostram quando acertamos, erramos, negligenciamos, procrastinamos e como cada uma de nossas ações afetam o todo.

Quando vamos nos reconciliando com estes números e construindo um pensamento estratégico, eles oferecem cenários para tomada de decisões cada vez mais assertivas e lúcidas. 

Compartilhe:

Saiba mais!

Receba as novidades da Previland