Um olhar sobre os investimentos em startups pelas entidades de previdência

O movimento representa uma evolução notável nas estratégias de investimento institucional

Por: Mauricio Coutinho

27 de agosto, 2024

Nos últimos anos, observamos no segmento mundial de previdência uma notável mudança no cenário dos investimentos, com fundos de pensão direcionando uma parcela significativa de seus recursos para o excitante e dinâmico universo das startups. 

Essa tendência não apenas reflete a busca por retornos mais robustos, mas também evidencia a crescente compreensão dos gestores sobre a importância de diversificar suas carteiras para assegurar a sustentabilidade a longo prazo.

O movimento em direção às startups como classe de ativos não tradicional representa um desvio marcante das abordagens convencionais de investimento associadas a essas entidades. 

Tradicionalmente, esses fundos concentravam seus investimentos em títulos de renda fixa e ações de empresas estabelecidas, buscando a estabilidade e a previsibilidade de retornos a longo prazo. 

No entanto, as mudanças no cenário econômico, aceleradas pela velocidade das transformações tecnológicas e pelas novas dinâmicas de mercado, provocaram uma reavaliação dessa estratégia.

O atrativo das startups para os fundos de pensão reside não apenas na busca por rendimentos mais elevados, mas também na oportunidade de participar ativamente da inovação e do crescimento econômico, criando novas possibilidades de negócio dentro e fora do segmento. 

As startups, frequentemente caracterizadas por sua agilidade, capacidade de adaptação rápida e propensão a desafiar o status quo, oferecem um terreno fértil, a custo baixo, para investidores que buscam exposição a setores emergentes e tecnologias disruptivas.

A abordagem dessas entidades em relação às startups é multifacetada. Algumas optam por investir diretamente em empresas emergentes, tornando-se acionistas estratégicos e colaborando ativamente com a gestão para impulsionar o sucesso a longo prazo. Outros preferem veículos de investimento coletivo, como fundos de venture capital, que proporcionam diversificação automática em um portfólio de startups.

Como exemplo, temos o Ontario Teachers’ Pension Plan, com sede no Canadá, que por meio de sua divisão Teachers’ Private Capital, tem histórico de investimentos em empresas de tecnologia e inovação. Eles participaram de financiamentos de algumas startups em estágio avançado.

Em 2022, o GPIF (Fundo de investimento de pensões do governo do Japão) começou a investir em startups do país pela primeira vez. O fundo investirá US$ 1,45 trilhão na economia inicial, em um esforço para desenvolver empreendimentos.

Outro exemplo relevante é a liberação da Grã-Bretanha de US$ 64 bilhões em financiamento de pensões para startups de tecnologia. Isto porque a empresa de design de chips Arm optou por listar-se nos EUA em vez da Grã-Bretanha, o que representou um grande golpe nas ambições do país de se tornar um destino global para grandes IPOs de tecnologia.

Muito embora o movimento pelos fundos mundo afora esteja acontecendo, essa mudança de paradigma não está livre de desafios. O ambiente das startups é notório por sua volatilidade e pela alta taxa de insucesso de novos empreendimentos. 

Os fundos de pensão, historicamente associados à estabilidade e segurança, agora enfrentam o desafio de equilibrar a busca por retornos mais elevados com a necessidade de mitigar riscos significativos.

A regulação desse tipo de investimento também está em constante evolução. À medida que os fundos de pensão se aventuram mais profundamente no ecossistema de startups, os órgãos reguladores estão atentos, ajustando políticas e diretrizes para garantir a proteção dos interesses dos beneficiários dos fundos.

À medida que o cenário de investimentos continua a evoluir, os fundos de pensão desempenharão um papel fundamental na formação do futuro das finanças e no apoio ao florescimento das empresas inovadoras que impulsionarão o futuro econômico e, principalmente, o bem-estar de seus participantes.

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